Aqui há uns tempos via eu uma reportagem num dos nossos telejornais, na qual se questionavam jovens adolescentes do sexo feminino sobre os seus gostos em relação ao sexo oposto. A grande maioria dizia “gosto daquele que tiver o estilo surfista”. Automaticamente me ocorreu uma questão pertinente: teria a amostra utilizada na recolha de opiniões desta reportagem sido suficientemente homogénea para e chegar a respostas verdadeiramente conclusivas? Obviamente que não. Mas, eis que, de repente, surgem mais “miúdas” de outras escolas a ser questionadas e com as suas respostas a serem semelhantes às já mencionadas. Tenho de vos dizer, amigos, que não foi sem alguma preocupação que assisti a este pedaço de televisão. Claro que, se pensarmos bem, desde os primórdios que, principalmente na idade adolescente, sempre existiram os freaks and geeks, os betinhos e os mais aparentemente normais. E continuam a existir. O que me preocupa é que uma maioria continue a “impor”, ainda que por vezes inadvertidamente (como nesta peça televisiva), os seus gostos não deixando espaço a uma pluralidade de opiniões, formatando cada vez mais uma sociedade que já é formatada de si, e na qual descobrir o pormenor, o detalhe, a diferença leva quase sempre a uma exclusão social que sempre existiu no nosso meio mas que, convenhamos, não queremos que se imponha tão cedo, em idades ainda tão provectas. Por outro lado, percebemos que é a nossa própria sociedade que impõe esta lógica de pensamento aos mais novos. São os pais que querem a todo o custo que os seus filhos sejam médicos, advogados, professores, engenheiros e outros que tais, é a própria sociedade civil que olha as pessoas consoante as habilitações ou o grau de sucesso que possuem. “É algo natural, as pessoas precisam de criar rótulos” dizia-me, há dias, um colega meu. “Ninguém está isento de culpas nesse fenómeno. Até porque não são só os ‘bem colocados’ socialmente a lucrar com a situação. Se reparares, há todo um grupo de pessoas que se orgulham de ser ‘rebeldes sem causa’, que se orgulham de ser diferentes e que não poderiam existir se não existisse esse outro grupo mais vasto de pessoas aparentemente ‘normalizadas pelo sistema’.”. É uma observação pertinente a deste meu colega e deixou-me a pensar sobre a minha real opinião acerca de tudo isto. Quem era eu na adolescência e quem sou eu agora? E o que me fez mudar pelo caminho? Cheguei à conclusão de que tive sorte em, na minha adolescência, ter convivido com um grupo que permitia e promovia a diversidade de ideias não menosprezando nenhuma delas, debatendo-as sobretudo, e que isso me transformou numa pessoa de convicções e personalidade fortes, nem sempre certo (quantas vezes confundi convicção com teimosia…) mas quase sempre suficientemente independente na forma de pensar para conseguir conduzir a minha vida de forma adequada dentro e desta sociedade impositiva. Uma espécie de John Sayles de trazer por casa. O que me fez chegar a uma conclusão ainda mais interessante: o que o meu colega me dizia era verdadeiro, mas revestia-se de uma verdade convencional, já de si formatada, porque “a nossa luta” não deve ser a de saber viver entre os rótulos que nos são impostos, mas sim a de saber pensar por nós próprios e fazer ver os outros que, mais que a catalogação das pessoas, é importante e imprescindível dar a ver a quem é diferente de nós que verdade não tem uma só face. Tem muitas! E nenhuma delas é certa nem errada. São diferentes. E que aquilo que realmente vale a pena não deve sê-lo simplesmente por ser a opinião da maioria, mas sim por mostrar que a realidade não se pinta a preto e branco e que é nos pormenores que realmente reside o interessante da coisa.
Monday, April 23, 2007
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