Quando gostamos muito de algo ou alguém por vezes é-nos difícil ser duros com o objecto do nosso apreço e é por essa razão, e apenas por essa, que entendo que os fãs dos U2 ainda consigam ter coragem para defendê-los perante alguns dos “atentados” que têm cometido nos últimos anos. Já nem vou falar naquela coisa a que as pessoas se habituaram chamar “álbum” e que dá pelo nome de “All That You Can’t Leave Behind”, pois de seguida redimiram-se com o não-perfeito mas bastante aceitável “How to Dismantle an Atomic Bomb”. E até reconheço os grandes méritos destes rapazes de Dublin em termos filantrópicos pois sempre que é necessária uma presença sua em iniciativas desse carácter, eles estão sempre lá. E, caramba, há que ter um certo respeito por estes indivíduos que conseguiram manter-se juntos a trabalhar há já umas dezenas de anos… ou será que não? Não? Pois, eu comecei a perder-lhes o respeito (a nível musical, entenda-se) no início desta década. Ainda consegui suportar o síndrome de megalomania que por ali pairou quando da edição de POP, porque afinal, a música era mesmo muito boa e a grandiosidade dos espectáculos tinha a ver com todo o conceito abordado. O pior, diga-se, veio depois da edição do Greatest Hits 1980-1990, com a nova roupagem atribuída a “Sweetest Thing” em homenagem à esposa de Bono. Quero dizer, a música em si nunca foi das melhores dos U2, mas eles conseguiram torná-la ainda pior. Rendeu! Depois disso foi sempre a piorar. Algumas bandas deveriam ter cuidado quando lhes “pedem” para fazer adaptações das suas músicas. Os U2, quais Queen (outros que se perderam algures) mais recentes, deixaram-se iludir pelos cifrões e, preparem-se para a heresia, cederam um dos seus maiores e incontornáveis clássicos, “One” a outras gentes. Os U2 nunca foram nem são qualquer um. São gente que sabe o que faz e ceder um dos seus hinos maiores a gente como Lighthouse Family (???) e Mary J. Blige nunca poderia resultar muito bem. Mas renderia milhões. A versão dos Lighthouse Family apenas se aceita por não ser uma versão na verdadeira acepção da palavra, mas antes uma mistura com outra música feita para a ocasião. Ainda assim, ficou, como dizer? Intragável? Enfim… Agora serem os próprios U2 a ajudar a “assassinar” essa grande música ao aceitarem colaborar numa versão praticamente igual à música original com a diva do soul, é um atentado à credulidade de qualquer um. Se querem atingir públicos mais novos, estar mais na moda, ou sei lá o que raio eles querem fazer, há muitas outras (e melhores) formas de o conseguir. Quando chegamos a este ponto, já é difícil voltar atrás. Os U2 estão caducos… Só não acabam como o Garrincha porque certos “vícios” são bem mais rentáveis que a bebida…